quarta-feira, 7 de abril de 2010

DIA DO ÍNDIO


Enita.


A velha Sakirap disse.
-Todos meus parentes morreram.
Os Sakirap são uma etnia indígena de raros viventes no Sul de Rondônia. Ela não sabe, mas foi a catapora quem dizimou seu povo. Fracos e com muita febre, não tinham forças para plantar como queriam os homens do Serviço de Proteção Indígena, a Funai de antigamente. Os agentes do SPI os castigavam amarrados nos troncos de árvores sem água e comida
-A senhora vem todos os dias, bem cedo, para este igarapé?
-Venho sim, gosto muito, conversar com os parentes, eles cantam para mim.
Enita a fitou, pesarosa.
- A senhora tem muitos filhos?
-Eu tinha uma filha, mas morreu
Enita não quer continuar a conversa, pensa que seria muito ruim falar da filha morta e tenta mudar de assunto. Mas, dona Iari quer continuar a conversa.
-Minha filha homem do SPI matou
- Como foi que ele matou?
-Minha filha estava esperando menino, homem do SPI falava para ela- vai trabalhar vagabunda, vai plantar- e quando ela não ia, eles amarravam ela no pé da arvore sem comida.
-E ninguém fazia nada dona Iari? Eram muitos?
-Sim, mas nossos homens estavam fracos, morrendo com muita febre.
Enita escuta enquanto ajuda a índia a lavar suas panelas de alumínio.
A velha Sakirap pede para Enita ouvir, põe a mão direita em concha sobre o ouvido e diz que os parentes cantam.
Enita ausculta. O som,parece sair do oco das árvores, melancólico e compungido.
Terminando de lavar as louças,Dona Iari levanta-se e vai descendo do jirau em direção à água chamando Enita para banhar-se. O vestido estampado de pequenas folhas verdes e desbotado de Dona Iari estava todo molhado.
Enita diz que não quer nadar, por estar muito frio,mas Iari insiste. Enita, aos poucos, mergulha.
Mais tarde, aquecendo-se no fogão a lenha, Enita é servida com um prato de bolinhos de cará e carne de queixada defumada, café e castanhas do Pará.
-Parente não vai escrever história que eu estou contando?
-Vou sim, respondeu

Autora Iracema Forte Caingang


E- mail iraforte@gmail.com


Enita III Chão Rubro

História verídica.

O ancião Makurap abre sua mão direita e torna a fechá-la.
Em 1989, na terra indígena dos Mekens, no Sul de Rondônia, ele diz.
-Olha, parente, como essa terra é bonita!
E espreme um punhado de terra fofa e vermelha fazendo escorrer entre os dedos um líquido sangrento como suco de açaí. Terra rica em nutrientes para os cafezais, a soja, o cacau, a pimenta-do-reino, lavouras que começam a mudar a paisagem do Sul de Rondônia no fim dos 1980.
- A Funai quer que a gente vá embora daqui. Eu não quero ir. Nós temos outros parentes Makurap morando longe, em outra reserva, mas eu quero ficar. Até aonde me lembro, da memória dos meus avós, todos nós nascemos aqui. Eu falo para meus filhos. Não vão embora, fiquem. A Funai diz que vai ser bom, mas o que eles querem é ficar com as nossas terras. Eu falo com todos para que não abandonem. Veja, Enita, essa terra não precisa do adubo que os fazendeiros usam, tudo que plantamos cresce muito e sadio. A Funai diz para vendermos as terras aos madeireiros, mas eu não quero vender nossas terras, eu quero ficar.
Enita respira fundo e pensa nas palavras para encorajar o velho. Lembra de uma história que ouviu em suas andanças pela região.
- Ouvi dizer que uns cientistas russos andaram pesquisando a terra e concluíram que é mais rica do que a mais rica das terras férteis de todos os países da União Soviética, tão equilibrada é a quantidade de nitrogênio, fosfato e outros minerais necessários para a agricultura. É mais valiosa que o ouro, comentou Enita.
O ancião Makurap sentou-se em um toco de árvore serrada pelos madeireiros e Enita continuou em pé admirando o horizonte azul, branco e rosa das nuvens recebendo os últimos raios de sol.
- O Senhor se lembra daquele casal de antropólogos que veio num avião?
-Lembro.
-Eles assinaram um documento para a FUNAI afirmando que aqui não há indígenas, que esta área não precisa ser demarcada.
-Você leu o documento, Enita?
-Voce sabe o nome deles?que as madeireiras podem continuar a derrubada, autorizando até as estrangeiras, mesmo que vocês não queiram. Depois que a madeira acabar, as terras serão vendidas para as fazendas.-Então é por isso que estão nos ameaçando de jogar bombas de avião para deixá-los entrar.-Quem disse isso? -Os madeireiros. Se a gente não os deixar entrar, vão matar a gente.-O documento diz que aqui não vive mais do que meia dúzia de pessoas e sem traços de cultura indígena.O velho voltou a espremer na mão direita a terra rubra e estendeu o braço mirando a estrada onde roncava um caminhão de toras.-Eles querem ver jorrar sangue. Ambos cruzaram os braços, entreolharam-se e ficaram a ouvir, ao longe, o motor do caminhão que ainda zunia enquanto as sombras da noite baixavam sobre a aldeia. Um acauã invisível entoou seu canto lúgubre. Enita estremeceu. - Vamos jantar, ordenou o ancião.


Autora Iracema Forte Caingang

E- mail iraforte@gmail.com


Acesse. Aqui você encontra lindas Lendas índigenas
http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendas%20indigenas1.html






MENINO POTI
Lá na mata vive o menino Poti. Ele vive numa oca, lá na taba.
Poti é bonito, com pena de tucano no peito.
O menino Poti vai de canoa pela mata.
A canoa leva o pote, o pote leva muita banana.
Poti vê o tatu e a cutia, vê o tucano e o tico–tico.
E o bebe–macaco vê o Poti, ai ele pula, cai lá da moita e bate o pé no toco.
Ai ai ai, coitado do macaco.
Poti vê o macaco caído e cuida dele.
O menino bota o macaco na canoa e o danado come toda banana do pote.
A canoa leva Poti até a taba e ele leva o macaco no colo.
Aí o pai de Poti leva muita banana até a taba.
E o bebe-macaco come muito.
De noite, a lua alumia a taba toda. Tudo iluminado !
Alumia até Poti no colo do pai e alumia o macaco de banana na boca.













































































































Posted by Picasa

Nenhum comentário: