segunda-feira, 19 de abril de 2010

VOCÊ CONHECE NOSSA HISTÓRIA?

Durante essa semana temos a oportunidade de refletir a respeito de nossa história. Será que ainda temos em mente que nossa história é feita apenas de fatos ligados a nomes de grandes personagens? Não podemos esquecer que não há homem sozinho, tudo se realiza em conjunto e em determinadas circunstâncias de cada época.

Nesse contexto devemos rever alguns conceitos que temos de história. Em nosso artigo da semana passada, relatamos a respeito do índio (19/04). É preciso ter coragem para afirmar como os índios estão sendo tratados e não é possível continuar camuflando a real situação desses povos e, não será colocando penas sobre a cabeça das crianças que demonstraremos nosso respeito para com eles. Na perspectiva do resgate de um novo conceito da história, devemos entender que os índios têm muito a nos ensinar, contudo, eles se encontram na situação de pobreza, miséria, vivendo na margem da sociedade. Eis a cruel situação do índio brasileiro.

Ainda podemos trazer outro fato importante, ligado com o anseio da liberdade e o fim do domínio estrangeiro no Brasil: trata-se de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Em sua memória temos o feriado de vinte e um de abril. Também desse fato temos que refletir: Tiradentes também foi usado, pois acabou tornando-se um mito criado pela propaganda republicana em 1889. Explicando: em 1792, quando Tiradentes foi executado, uma vez que se envolveu no episódio conhecido como Inconfidência Mineira, o governo português tudo fez para que ele fosse esquecido e considerado como bandido e traidor da pátria. Entretanto, os republicanos, em 1889, quando assumiram o poder, quase cem anos depois, tornaram Tiradentes um herói nacional.

Essa é uma das formas de se escrever a História do Brasil: quando os poderosos desejam que alguém seja esquecido ou lembrado, usam os ‘mecanismos’ que são convenientes. Mas é preciso deixar claro que pesquisas recentes demonstram que Tiradentes era um herói popular, de memória proibida, em especial no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, logo após sua execução em 1792 e, antes da proclamação da República em 1889 já se cultuava o mártir. Os lideres republicanos apenas o tornaram oficial e nacionalmente conhecido.

Quando estudamos a Inconfidência Mineira, somos levados a entender que a maioria dos indiciados tentou incriminar Tiradentes e, se foi ou não cabeça daquele movimento, não importa, mas, por força de ofício, sabemos que ele circulou com bastante desenvoltura e, por onde passava, exercendo a arte de falar, propagava a Inconfidência. Contudo, sua imagem foi cuidadosamente trabalhada pelos frades franciscanos e, mais tarde, apropriada pelos republicanos em busca da legitimação do novo regime.

Tiradentes foi muito ‘usado’ (continua sendo usado) por políticos, poetas, romancistas, artistas e outros tantos que o transformaram em mito de origem do ideal brasileiro de liberdade. Cecília Meireles, no Romance sobre a Inconfidência; o historiador Francisco Iglésias que destaca a generosidade e o símbolo do homem livre; o compositor Fernando Brant, quando diz que o corpo espalhado em quatro cantos que alimenta a vida e esperança; o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que afirmou que o sonho de liberdade não morre, mesmo quando esquartejado: o futuro tem gosto de Tiradentes; o escritor e jornalista Zuenir Ventura, afirma que não podemos nos conformar é preciso lutar pela cidadania, ainda que tardia; o romancista Otto Lara Resende fala de um rapaz meio maluco e sonhador e acendeu uma chama que não pode se apagar, sua utopia continua atual e cabe em uma palavra: liberdade.

Também, tratando-se de nossa história, não podemos esquecer de vinte e dois de abril (de 1500) quando lembramos da ‘chegada dos portugueses no Brasil’. Aqui fica um apelo: vamos parar de ensinar e falar que os portugueses ‘descobriram’ o Brasil, digam apenas: vinte e dois de abril é quando os lusitanos aqui chegaram ou que eles ‘acharam’ o Brasil. Lembrem-se: os índios aqui estavam e sofreram conseqüências negativas terríveis.

Oxalá que nós brasileiros tenhamos vontade de rememorar esses fatos do passado, pois eles são importantes e que as indagações e frustrações do presente, mantenham viva a chama da justiça, da liberdade, da paz e solidariedade ainda tão distantes desse País chamado Brasil.




Texto retirado do blog do Profº Ciro José Toaldo http://cj.toaldo.zip.net/

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